O dispositivo da “Apresentação de Pacientes" pela Psicanálise entra na formação de um psicanalista pela clínica das psicoses como um percurso clínico. Anne-Marie Braud, em seus trabalhos sobre apresentação de paciente, define três lugares: apresentador, paciente e público. O apresentador é um psicanalista que entrevista um paciente diante de um público.

Lacan realizou apresentações de pacientes pela Psicanálise desde um outro lugar, diferente do da Psiquiatria. Se interessou pela relação do sujeito com o Outro da linguagem. O público recebe o ensino pelo dizer do paciente. Da presença do público, Lacan esperava que houvesse escuta para além do que o apresentador podia escutar, ou seja, o que escapou ao apresentador por estar implicado na Apresentação. Isto permitia elaboração de questões, como fez Freud ao que escutara na Salpêtrière, acrescentando notas, revelando o que escapou a Charcot do saber apresentado ao público.
 

O público, durante a Apresentação, se mantém em silêncio. O paciente muitas vezes se dirige ao público durante a apresentação numa tentativa de encontrar uma inscrição para sua voz, procurando um testemunho, uma aprovação ao que está em prática naquele momento. Neste momento entra em cena este terceiro, a quem apresentador e paciente se dirigem indiretamente. O papel de terceiro, relacionado ao público, poderia realizar uma contribuição a um conhecimento, uma renovação da clínica: “Lacan esperava das apresentações uma renovação da clínica analítica, ou seja, uma clínica não fundada na relação dual e no olhar".
 

Porge define essa presença silenciosa como “A presença terceira – silenciosa, embora atenta e receptiva – do público significa, como no chiste, o desvio pelo Outro no circuito do dizer”, o mesmo acontecendo dentro de um hospital psiquiátrico, onde a presença do público na Apresentação abre para o paciente o exterior da instituição, direção para a qual o paciente voltará e terá que lidar com outros fora dos muros.